Ana Maria caminhava apressada, numa tensão nervosa que crescia à medida que se aproximava do laboratório. Do outro lado da porta, as leveduras aguardavam-na... Tinham estado todo o fim-de-semana em frenética cópula, mas ELA não tinha vindo... Prometera-lhes mundos e fundos, a ingrata, «far-vos-ei um digno portfólio!», dissera sorrindo enquanto barrava o agar, «as melhores de vós estarão na Nature!», garantira com afagos enquanto fechava as caixas de petri... Bah! Horas e horas de esforço, de tudo fazendo para que à meia-noite, quando Ana Maria chegasse ao laboratório, as pudesse confirmar, numerosas e belas, numa perfeita composição de lustrosos bolbos de amarelo desmaio... E NADA!
Ana Maria abriu a porta e um grito imenso lhe percorreu as entranhas. Todo o laboratório estava envolto numa grossa pasta amarelo vómito. A cientista escorregou na pegajosa pasta e caiu prostrada no chão. Ao ver o tecto coberto por numerosos bolbos disformes, balbuciou «perdoem-me! por favor perdoem-me! Era o meu aniversário de casamento!...». Os bolbos caíam cobrindo o seu corpo. Até que uma grossa postela se despegou do tecto e a silenciou.
(Rita Fouto)
Sem comentários:
Enviar um comentário