A respiração.
Começamos pela respiração.
A caixa toráxica dá sinal de vida, o que é bom, o corpo move-se acompanhando os batimentos ritmícos e ressoa. Soa bem.
Respiramos em apneia. Corpos suspensos, congelados num segundo de hesitação, projectam-se para o exterior para depois regressarem a casa. Raios de luz.
Inspiramos juntos, braços que procuram outros braços, mas expiramos em solidão.
A matéria corporal estende-se pelo chão, dilata-se, pinta. Rabisca uma gramática improvisada e experimenta pipetar ao som de um Piazolla remixado e electrónico. A pipeta apaixona-se pelo tango e juntos deslizam trágicos e sublimes pelo espaço.
Chega a voz:
- Ahh!!
O samurai mostra a sua raça e fibra. Vibra o “ahh” no corpo que respira pelos rins e a voz desenha firmemente o caminho. Vozes que contam até 20, que criam aeroportos, que nos transportam a florestas, que encarnam personagens e ecoam pensamentos.
And now, ladies and gentlemen, something completly different…
Estamos prestes a entrar no fabuloso mundo de K.
De conhecer os meandros da sua frenética e complexa existência e de descobrir pormenores de uma quotidiana odisseia que desafia a gravidade…
A viagem que sempre quis fazer… (tambores em crescendo)
…. Um dia na vida de K. Do fracasso ao sucesso - ida e volta.
K. é cientista. K. é a nossa protagonista.
- Já assinou os papéis??
Entramos na vida de K. - K. dorme, K. sonha.
Na sua cama imensa com lençois XXL, a sua almofada fofinha Gosa Syren (que os suecos dizem ter “enchimento de microfibras – o que cria uma almofada indeformável e arejada”) lateja e desintegra-se…
- E a sopa… já comeste a sopa?
K. sonha, tem sonhos pesados, pesadelos portanto. Os lençois ganham voz, falam, gritam. A almofada transforma-se em mãe, marido, filha, chefe. Eles invadem o seu sonho, censuram-na, dão opiniões, dão palpites.
- Isto está muito mal….!
- Oh darling!
Amigos, palavras de ordem, pedidos, Deus, albatrozes e leveduras.
Todos. Todos entram pelo seu sono adentro. Fazem exigências, ameaças, declarações:
- Eu plhrecilhso de falar contigo, amiga, tu telhns de me ajlhudar!
K. diz que sim , diz que não, diz que não sabe.
K. transpira, caminha, decide. K. chora, desespera, volta a tentar…
- Estás cá mamã?
Uma sinfonia radiofónica de bons dias marca o exuberante compasso de um novo dia.
K. lava o dente, lava a cara, puxa o zip, come os cereais. Veste a manga, despe a meia, põe desodorizante.
- I feel good!! I knew that I would now!!!
Um texto de Cláudia Andrade, co-orientadora do "Laboratório do Corpo Poético" (T.Movimento/ Cientistas ao Palco, Noite de Lisboa)
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