quinta-feira, 25 de junho de 2009

As Paixões dos Cientistas... no Palco!

As artes são representações do real, não são o real. Mas que real é este que elas representam? Existem artes, como a música, que organizam o som e o silêncio, no tempo. Existem artes, como a pintura, que organizam a forma e a cor no espaço. E existem artes, como o teatro, que organizam acções humanas, no espaço e no tempo. Quais destas acções serão dignas da representação teatral? Evidentemente, só aquelas nas quais os seres humanos revelam as suas paixões. Mas... e o que é a Paixão? É cada um dos sentimentos extremos dos quais o ser humano é capaz. A paixão, por ser libertária, procura reinventar a vida, recriar o mundo.

Adaptado de “A paixão e a arte” - O Teatro como Arte Marcial, de Augusto Boal, Garamond 2003

No Laboratório do Teatro do Movimento temos estado a investigar as paixões. Observamos e analisamos vários sentimentos e desenvolvemos linguagens dramáticas para transpor cada um desses sentimentos para o palco. Jogamos com as escalas: o sentimento de alguém pode ser aumentado pela presença de um coro que nos vai transmitir, em movimento, a emoção do protagonista – entramos no terreno do melodrama. Jogamos ainda com nós mesmos, escarnecemos uns dos outros, de nós próprios, para encarar de frente as paixões humanas com a verdade crua da auto-derisão: convocamos os bufões e entramos no terreno do burlesco.

Lembrámo-nos de outro colega que estudou este mesmo tema: em 1872, Charles Darwin publica “A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais” enquanto estudo complementar da “Origem das Espécies”.
Transcrevo alguns exertos:
“Quando é intensa, a alegria suscita não apenas fortes gargalhadas mas também uma série de movimentos destituídos de sentido: a pessoa pode executar uns passos de dança, bater palmas, bater com os pés no chão, etc.”
“Sendo uma sensação agradável, o afecto gera normalmente um sorriso suave e aviva o brilho do olhar. Suscita em geral um intenso desejo de tocar a pessoa amada.”
“Quando o medo atinge a sua intensidade máxima, a pessoa emite um pavoroso grito de terror. Segue-se um estado de total prostração e um bloqueio das faculdades mentais. Os intestinos são afectados. O esfíncter deixa de funcionar e não retém os conteúdos do corpo.”
“A timidez reconhece-se pelor rubor na face, pelo gesto de desviar ou baixar os olhos, e pelos movimentos nervosos e desajeitados do corpo.”
E é ainda Darwin que se alia a Shakespeare e reconhece que a capacidade do actor de expressar as emoções está necessáriamente relacionada com a sua expressão física:
“Mesmo a simulação de uma dada emoção tende a fazer com que esta desperte na nossa mente. Shakespeare, que pelo seu maravilhoso conhecimento da alma humana poderia ser um juiz excelente, diz o seguinte:
Não é monstruoso que este actor aqui,
por uma ficção apenas, um fumo de paixão,
tenha forçado tanto a alma ao que concebeu
que, por ela alterado, a cara lhe empalidece,
de lágrimas nos olhos e tumulto no aspecto,
a voz tolhida e todos os actos moldando-se
na forma ao que imaginou? E tudo por nada!
Hamlet, II, 2”
Aguardemos então pela obra “A Expressão das Emoções no Cientista” de Agostinho, Almeida, David, Carneiro, Cartaxana, Costa, Dinis, Fouto, Maia, Moraes, Morgado Oliveira, Pina, Santana, Trindade. Parece que será lançada nos jardins da Gulbenkian a 25 de Setembro do corrente ano!
(Catarina Santana)

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