domingo, 31 de maio de 2009

Corpos que mimam o mundo


Quando Van Gogh pinta arbustos balançando ao vento, pinta o vento: faz-nos ver o invisível
(Augusto Boal)

No laboratório do movimento, estamos a investigar o que Lecoq chamava de fundo poético comum: uma dimensão abstrata feita de espaços, de luzes, de cores, de materiais, de sons que se encontram em cada um de nós e que foram depositados em nós a partir das nossas diversas experiências e sensações. Assim, munidos dos nossos corpos poéticos que mimam, desenvolvemos duas técnicas para recriar o mundo em palco através do movimento: a identificação e a transposição.

Começámos pela identificação com os elementos da natureza: água, fogo, terra e ar. Em que parte do corpo se inicia o movimento? A que ritmo e como se desenvolve no espaço? Que dinâmicas lhe estão associadas? E porque o homem foi o mar, pudémos vê-lo a atrevessar o mar numa sala do IMM!

De seguida, transpusémos as características dos elementos para o comportamento humano e encontrámos, numa manhã, na casa de banho, um estudante acabado de acordar de um sonho molhado, uma jovem airosa a pentear-se frente ao espelho e a sua boleia farta de esperar, em brasa, a bater furiosamente à porta. Mas no fim do dia, sentaram-se num banco de jardim, duas amigas, e assim enraizadas e serenas deram-se as mãos e respiraram fundo.

Estudámos ainda os elementos nas suas condições extremas: as tempestades, os incêndios e tremores de terra e lembrámo-nos dos nossos sentimentos extremos... das nossas paixões...!

Passas a tua vida através de uma gota de água e vês o mundo!
(Jacques Lecoq)
- um post de Catarina Santana -

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Cientistas ao Fórum


Reunimo-nos duas vezes por semana no Fórum Lisboa


Andamos pelo espaço



Ou caímos pelo chão


Activamos o corpo


O peito


E as vozes





Para estarmos disponíveis e preparados para as improvisações sobre os temas sugeridos



E assim irmos construindo o nosso espectáculo


Com o contributo e empenho de todos


Fotografias: David Marçal

Cientistas ao Fórum: Américo Duarte, Ana Castro, Ana Osório, Andrea Santos, Ângela Crespo, Catarina Francisco, Catarina Silva, Célia Santos, Cláudia Andrade, Cláudia Gaspar, Leonor Alves, Luís Branco, Mariline Justo, Pedro Ferreira, Rosana Rocha, Sónia Negrão, Virgínia Marques
Direcção: Romeu Costa e Joana LA

terça-feira, 26 de maio de 2009

De que falamos quando falamos de cientistas? (2)

Disto?

ou disto?


Há muitas maneiras de se começar a ser cientista, mas a maioria começa com uma bolsa. Não é a bolsa que faz deles investigadores, mas é o que lhes paga as contas. Para informações sobre este assunto podem consultar o site da Fundação para a Ciência e a Tecnologia e aceder ao Guia do Bolseiro da Associação dos Bolseiros de Investigação Científica.

A maioria dos jovens investigadores científicos são efectivamente bolseiros, e cada vez mais. O que não significa que sejam estudantes: são trabalhadores em ciência e/ou tecnologia, sempre em formação como qualquer bom profissional de qualquer área. Apesar de não auferirem subsídio de férias ou de Natal. Mas têm férias. E Natal.

Há quem acumule essa função com a docência no Ensino Superior, o que significa uma carga às vezes bem pesada. Dar aulas é muito mais do que as horas na sala de aulas, implica preparação e seguimento dos estudantes e sua avaliação. E o tempo que não estica, que não estica.

No grupo de trabalho de Teatro-Fórum temos bolseiros para todos os gostos e feitios, e de várias áreas científicas - e mulheres em larga maioria. Porque será?

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Repto aos não-cientistas: Qual a vossa imagem da vida amorosa de um cientista?

Imagem do calendário erótico da Federación de Jovenes Investigadores / Precarios

Uma cientista do grupo de stand-up lançou este repto aos seus amigos e familiares. Todas as respostas recebidas até agora. Anónimas, apenas com indicação de genéro. Deixe-nos também a sua, na caixa de comentários!

(Masculino ; Feminino)

1.
Assim sinceramente (e não pensando em nenhum cientista em especial, nem em ti) os cientistas não têm uma vida amorosa normal? Isto é dentro das anormalidades que o amor implica obviamente! ou seja, uma vez que um cientista é um ser humano normal, tal como qualquer outro, acho que tem uma vida amoraosa normal! Por isso priminha, fica descansada!!! És normal como os outros!! :) F

2.
Como as enzimas, uns "enzima" dos outros bem juntinhos, como cadeias de DNA e barulhentos como electroes: Planck planck planck! F

3.
Acho que é cheia de experiencias M

4.
Eu acho que tu namoras com uma amiba M

5.
A vida amorosa de um cientistas deve envolver muita química... F

6.
Acho que dedicam demasiado tempo ao trabalho passando a vida amorosa para segundo plano. Depois como não sabem lidar com a vida amorosa, afastam-se das pessoas. M

7.
Pelo que conheço dos cientista de hoje em dia são em geral pessoas com a mentalidade aberta e pouco agarrados a tradições como o casamento. Geralmente vivem maritalmente ou sós. Como cientistas viajam bastante e por vezes por periodos alargados, como um ano ou mais. Muitos cientistas que conheço conseguem manter uma relação apesar de estarem muito tempo à distancia. M

8.
Eu acho que o Einstein era menino para se “esquecer” da função física se uma função diferencial lhe acometesse a mente.

Acho que o Darwin deveria supre activo para melhorar a evolução. Talvez tentasse variadíssimas posições e situações para estimular a variedade.

O Custeau fá-lo-ia, garantidamente no mar.


O Pasteur, só depois de devidamente limpo e esterilizado. Ele a companheira, a cama, o quarto e, provavelmente, em ambiente de subpressão com entrada Eppa.


O John Watson, em espiral. E sempre, duplamente.


O Descartes pararia para pensar, cogitar. O Damásio nem pensaria.


Platão fá-lo-ia atrás de um lençol iluminado - para projectar as sombras.


Arquimedes numa banheira.


Maxwel em saca rolhas

Pierre Curie... por rádio (hoje, talvez internet)


Mas o mais explosivo, sexualmente seria, sem dúvida, o Nobel! Verdadeira dinamite.
M

9.
“Para mim a vida amorosa de um cientista deve ser muito metódica :D Tudo com procedimentos bem definidos, rotinas escalpelizadas, e tudo com muita sustentação teórica :)

Bem, acho que se for um cientista NO EXAGERO DA PALAVRA (Aquele que é tipo cientista-
maluco) a sua vida amorosa deverá ser uma vida em que devido ao seu horário de trabalho não rígido, deverá ter alguns problemas no que diz respeito à busca do seu grande amor e mesmona sustentação familiar de um relacionamento presente. Isto pq o seu horário muitas vezes o condiciona a ele e faz com que ele se interesse e se entusiasme por vezes demais no seu trabalho e menos um pouco na sua família. Um cientista é tão metódico e tão com os procedimentos bem definidos que via tudo o que tivesse a ver com a mulher relacionado com a ciência, ou seja, instigar-se sempre com o “porque”, (pq é k a mulher é assim? Pq é k a mulher tem tt necessidade de falar? Pk é k a mulher tem tanta necessidade de se vestir bem e de ser vaidosa? Pk é k a mulher tem necessidade de dizer mal das outras)…. E também com o “Como” (como é k a conquistarei? Como é k a mulher terá mais prazer? Como é k a posso levar a jantar?) e o “o que é? (O que é k a faz gostar mais de mim? O que é o prazer? O que é o amor? O que é o carinho”) M

10.
Bom, em primeiro há que salientar a qualidade da língua de um cientista. É impressionante o inglês técnico que dominam e mais impressionante ainda é que o utilizam (tb para mostrarem que o possuem) durante todo o tempo da “vida amorosa”, falam em estrangeiro que só eles devem perceber. Um cientista em que país for é sempre um estrangeiro.

O segundo ponto é ainda mais estranho, nos finais dos actos amorosos da “vida amorosa” é
normal que aconteçam coisas, hummmm…, “diferentes”, que nos os leigos (não cientistas) achamos normais e deixamo-nos estar todos contentes sentados no sofá. Agora não é normal no fim ir a correr para o Google para se tentar provar o quer que tenha acontecido, é pá, quebra a parte amorosa. Tirando isso acho normal. M

11.
Conseguem manter as ditas relações, mesmo com grandes períodos de ausência, uma vez que SE ESQUECEM que têm essas relações! (a ideia do cientista alienado do mundo). se vivem sós é porque não encontraram ninguém que aturasse as quebras para idas ao google! F

12.
Bastante farta e experimental. Nao sera por acaso que os tipos invetaram o Viagra uma das maravilhas do seculo, dizem! Qual tensao arterial alta ou colesterol... Viagra obedeça a prescrição e deixem-se de intelectualidades! Imaginem depois de tanta proveta e artefactos em forma de dildo!!! M

13.
Acho q pode ser menos vivida do ponto de vista sentimental pq é mais analisada do ponto de vista do processo em si e das reacções em causa. Ou seja, por exemplo um ginecologista! Eu acho sempre q eles a fazerem sexo estão sempre a pensar "ah, agr se puser o dedo ali no lijfoifhwfqlkfjlqk da minha companheira aquilo tem lá muitos circuitos nervosos e ela vai gostar" em vez de "go with the flow", o que deve ser um bocado chato, coitados...

Enquanto q aqueles q não são cientistas abstraem-se mais de tudo enqt estão a fazer o amor. É
mais naquela de "ok, trabalho àparte, agora é para pinocar!" Só. E chega! Resumindo: um cientista, se não se puser a pau, pode ser muito chatinho na sua vida amorosa! F

14.
eu diria que o einstein se aproveitou melhor da teoria da relatividadade na sua vida amorosa...és feio, isso é relativo, és mau na cama, isso é relativo, querido, entao e eu, isso é relativo e.... e tb imagino um cientista a fazer um protocolo antes e um mapa de resultados depois e a entregar um esquemazinho...e a dizer “mas por favor diz-me se errares” F

quarta-feira, 13 de maio de 2009

De que falamos quando falamos de cientistas? (1)

Disto?
Ou isto?





Esta semana no grupo de trabalho do Teatro-Fórum falámos sobre o que os outros acham sobre o que nós fazemos. Só vale a pena ser cientista se for para descobrir a cura definitiva do cancro, a vacina para o HIV ou ganhar o prémio Nobel? (de preferência tudo ao mesmo tempo, se faz favor. E uma dose de batatas fritas)

Andam pais a financiar licenciaturas aos filhos para seguirem uma profissão que é mais uma paixão, entregam-se muito e ganham pouco, sem grandes garantias de futuro, para além de terem de levar com os vizinhos "mas afinal ela estuda ou trabalha?"

O primo afastado pergunta se lhe sintetizamos uns comprimidos fixes para o sábado à noite, não é para isso que serve a química, ou se trazemos bichinhos nos bolsos, daqueles que têm doenças e espalham o caos. Se já explodimos a cozinha da avó ou se passamos o dia na biblioteca a gastar os olhos e a perder o sol. Se com a engenharia genética dedicamos o tempo a produzir bagos de arroz do tamanho de abóboras ou se já clonamos pessoas às escondidas ali para os lados de Oeiras, onde ninguém vê. Quando falamos em trabalho de campo pensam que plantamos batatas, a física de partículas soa a insulto gratuito e convém esconder a formação em engenharia electrotécnica para não pensarem que se conserta frigoríficos e microondas.


O que é que os não-cientistas acham que é isto de andar a fazer ciência?

terça-feira, 12 de maio de 2009

Para que serve a ciência?

At such a difficult moment, there are those who say we cannot afford to invest in science, that support for research is somehow a luxury at moments defined by necessities. I fundamentally disagree. Science is more essential for our prosperity, our security, our health, our environment, and our quality of life than it has ever been before.

- Barack Obama, no encontro anual da National Academy of Sciences, Washington D. C., Abril de 2009

o resto aqui

domingo, 10 de maio de 2009

Cientistas ao Palco na Sic Mulher

David Marçal fala sobre o projecto no Mundo das Mulheres, no dia em que se debatia "Quero ser cientista" também com a presença da presidente da Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) Luísa Mota.

O David está a trabalhar com cientistas para criar espectáculos de Stand-up comedy e na fixação do argumento do Teatro-Fórum, ambos em Lisboa, e uma peça sobre evolucionismo em Coimbra, especialmente para a Noite dos Investigadores.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Cientistas ao Palco | Lisboa | Teatro do movimento



le corps poétique

Tout Bouge.
Tout évolue, progresse.
Tout se ricochette et se réverbère.
D'um point à autre, pas de ligne droite.
D'un port à un port, un voyage.
Tout bouge, moi aussi!
Le bonheur et le malheur, mais le heurt aussi.
Un point inéci, flou, confus, se dessine,
Point de convergences.
Tentation d'un point fixe,
Dans un calme de toutes les passions.
Point d'appui et point d'arrivée,
Dans ce qui n'a ni commencement ni fin.
Le nommer,
Le rendre vivant,
Lui donner autorité
Pour mieux comprendre ce qui bouge,
Pour mieux comprendre le Mouvement.

Jacques Lecoq
Belle-ile-en-Mer, août 1997


A análise dos movimentos do corpo humano e da natureza, das acções físicas na sua economia, é a base do trabalho de corpo deste laboratório. Assim, neste primeiro contacto com a análise do movimento, os actores-cientistas aprenderam um dos movimentos naturais da vida: a ondulação e os movimentos do mimo de acção: empurrar e puxar.

«A ondulação é o primeiro movimento do corpo humano, o de todas as locomoções. Na água, o peixe ondula para avançar. Na relva, a serpente ondula também. A criança, de gatas, também ondula e o homem, de pé, continua a ondular. Se observarmos as pessoas a sair do metro com uma camera, constatamos na análise dos seus movimentos que sobem e descem: seguem uma linha de ondulação. Toda a ondulação parte de um ponto de apoio para chegar ao ponto de aplicação. A ondulação toma apoio no chão e transmite progressivamente o esforço a todas as partes do corpo até ao ponto de aplicação. Esta ondulção encontra-se na bacia do homem que anda. A bacia arrasta o resto do corpo numa dupla ondulação natural: uma lateral como no tubarão e outra vertical como a do golfinho. A ondulação é o motor de todos os esforços físicos do corpo humano: "empurrar/ puxar" e "empurrar-se/ puxar-se".»

in, le Corps Poétique, Jacques Lecoq, Actes Sud-Papiers, 1997

Os cientistas do laboratório do teatro do movimento ensaiam às 2ªs e 4ªs Feiras das 19 às 22h, nas instalações do IMM (edifício Egas Moniz, campus do Hospital de Santa Maria), em Lisboa, de 6 de Maio até à grande noite de 25 de Setembro. Em Maio, os ensaios ocorrerão apenas às 4ªs Feiras. Exortamos todos os que participam neste laboratório a levantar âncora, porque a viagem já começou!

domingo, 3 de maio de 2009

Augusto Boal (1931-2009)

Augusto Boal morreu ontem, dia 2 de Maio às 2h40. Todos os que admiramos e multiplicamos as suas técnicas, o seu trabalho e a sua paixão - que são também agora as nossas - ficamos tristes pela sua partida mas gratos pela sua passagem.




Lembramo-lo com uma reportagem feita no ano passado, a propósito da nomeação ao Prémio Nobel da Paz (veio a ser atribuido ao finlandês Martti Ahtisaari).